O FIM DAS CINZAS VOLANTES - CASE STUDIES

Caso 1 - Viaduto na orla costeira

Está em plena fase de construção um viaduto junto à costa. O betão que está definido em projeto tem a seguinte especificação:

• Classe de resistência - C30/37
• Classes de exposição ambiental: XC4 e XS1
• Classe de consistência: S4
• Classe de teor de cloretos: Cl 0,10
• Máxima dimensão do agregado: 22 mm

Quando o viaduto começou a ser construído havia disponibilidade de cinzas volantes, uma vez que as centrais termoelétricas estavam a funcionar normalmente. Contudo, num cenário em que as centrais termoelétricas de Sines e Pego estejam paradas por um longo período, o que já aconteceu em 2019, isso significa que deixa de haver cinzas volantes disponíveis para o betão. Por esta razão, o betão que tinha sido definido pelo projetista para o viaduto deixa de poder ser fabricado e, para se garantir a mesma durabilidade da obra, o betão sem cinzas volantes precisa de ter uma mínima classe de resistência C40/50.

Um aspeto importante a ter em consideração é que este aumento da classe de resistência do betão não é aproveitado em termos estruturais, uma vez que o projeto foi calculado com base na classe de resistência C30/37.

Nota 1: O C30/37 especificado no projeto deve ter uma dosagem de ligante (combinação de cimento com cinzas volantes) superior ou igual a 320 kg/m3, que é dosagem mínima requerida para a classe de exposição XS1.

Nota  2: O betão sem cinzas volantes deve ter uma mínima dosagem de ligante de 360 kg/m3 para a mesma classe de exposição. 

Caso 2 - Obra marítima

Vai ser construída uma nova marina no estuário do rio Tejo. Os paredões de proteção da marina vão ser executados em betão armado. Qual é o betão necessário para avançar com o dimensionamento estrutural?

Nesta altura, já é do conhecimento público que as cinzas volantes têm o fim anunciado (ver artigo). Por isso, o projetista deve partir desse princípio. As classes de exposição ambiental a considerar para este caso são:

• Corrosão induzida pela carbonatação do betão - XC4 (superfícies de betão em contacto com a água proveniente das marés, da rebentação e dos salpicos)
• Corrosão induzida pelos cloretos marinhos: XS3 (zona de marés, de rebentação e de salpicos)
• Ataque químico: XA1 (ataque ligeiramente agressivo pela água do mar)

Tendo em conta a exposição ambiental do betão, a classe de resistência do betão é condicionada pela classe XS3. A especificação LNEC E 464 requer uma mínima classe de resistência C50/60 para o betão sem cinzas volantes e C35/45 para o betão com cinzas volantes. 

O projetista deve optar pela classe de resistência C50/60. Desta forma, fica precavido o caso de não haver cinzas volantes na altura em que a marina estiver a ser construída. 

Nota 1: No caso de haver cinzas volantes aquando da construção da marina, o betão deve ter uma mínima dosagem de ligante (combinação de cimento com cinzas volantes) de 340 kg/m3.

Nota  2: Caso não haja disponibilidade de cinzas volantes, o betão deve ter uma dosagem de ligante superior ou igual a 360 kg/m3